O homem do início do século XXI
- 29/05/2017 às 09:00
- Kalil Potenza, Alex Assis
Forte, peludo, grosseiro, lutador, defensor e provedor dos alimentos necessários para a sobrevivência, além de sua manutenção, assim era conhecido o homem da pré-história. A mulher pré-histórica, por sua vez, era responsável pelo âmbito familiar, criadora e produtora de descendentes e mantenedora das boas vontades dos membros da família. Esse pré-conceito, com o passar dos anos, aos poucos, tornou-se obsoleto e, cada dia mais, pode ser evidenciado nas ruas, nas famílias e em todos os cantos dos cinco continentes e constatado que o homem está mudando.
O homem do século XXI sofre a sua primeira grande mudança pelo fato de não mais estar destinado única e exclusivamente à caça, proteção e manutenção,mas sim, estar destinado ao que ele julgar acessível à sua pessoa e que lhe proporcione prazer no dia a dia ao realizar tal tarefa. Sua face, ora peluda e suja, hoje tornou-se limpa, com a barba cuidada, cabelos lavados e tratados e tratamentos estéticos que são complexos tanto quanto os que as mulheres já fazem há alguns anos. Quando a possibilidade de ser hedonista e os cuidados pessoais se mostraram acessíveis e desprovidos de castigos por parte da sociedade, sua liberdade se fez presente e notória. O homem do novo século não mais é um troglodita inflamável, mas sim, se mostra como um ser amável, com deficiências e sentimentos expostos, nada daquele velho machão de pedra.
A mudança de posições e tarefas é originária de várias causas. Dentre tais causas, podemos citar a globalização, a geopolítica, as influências dos meios de comunicação, a comunicação propriamente dita, inclusive dos meios digitais (redes sociais, influenciadores digitais, youtubers e afins), e consequências desses pontos,como polarizações e criações de grupos temáticos.
Para entender um pouco mais, devemos entender cada um dos motivos para, no final, juntá-los e construirmos o cenário atual.
A globalização, tema atual e que ganhou força no final do século XX até os dias de hoje, deve-se, principalmente, ao fato de que a conectividade entre as pessoas de diferentes lugares do mundo tornou-se possível quando a internet foi disponibilizada ao público e, com o decorrer dos anos, veio a ser acessível por uma maior parcela da população mundial. A possibilidade de se comunicar sem precisar depender do correio, de um telegrama ou de uma carta, se mostrou como a revolução inicial para que as chances de comunicação entre conhecidos e desconhecidos ganhasse força, aos poucos, e pudesse crescer conforme uma demanda natural de curiosidade inerente ao ser humano.
Com o advento das redes sociais, desde o Orkut, fundado em 2004, até o Facebook, criado em 2008, e demais redes como o Instagram, Twitter, Snapchat, entre outras, a comunicação com pessoas a longa distância, desconhecidas e que pudessem ser interessantes por diversos motivos, tornou-se real e palpável. Importante ressaltar que, não somente uma mensagem poderia ser enviada, mas sim, uma conversa estabelecida de acordo com as suas preferências, ou seja, poderíamos conversar com pessoas que tivessem os mesmos interesses que nós, desde filmes até negócios.
Com a globalização e toda a possibilidade de comunicação e entretenimento, importante ressaltar que a geopolítica sempre foi um fator fundamental nas relações entre países e influenciadora direta de suas economias. Portanto, alguns casos como a China e a Coréia do Norte – as quais têm a internet restrita para certos conteúdos – são passíveis de não participarem dessa globalização com 100% de aproveitamento, pois seus governos interferem na comunicação com agentes externos. Não somente nesses países temos uma interferência do Estado na comunicação, mas casos no Brasil também já foram vistos, como o Facebook que foi bloqueado durante algumas horas como punição por não liberar informações de usuários que foram solicitadas pela polícia e, portanto, não colaborar nas investigações em andamento.
Após a globalização, geopolítica e comunicação através das redes sociais, a comunicação em massa é um fator que sofreu grandes alterações em sua forma de se concretizar desde a década de 50 até os dias atuais. Propagandas que antes eram comuns, como mulheres cuidando da casa, homens fumando e dominando a sociedade e crianças obedecendo ordens maternais, aos poucos, tornaram-se obsoletas e destituídas de aceitação por parte do público. De fato, a reprovação sofreu um aumento drástico e movimentos sociais começaram a reivindicar os direitos de igualdade entre gêneros e outros debates mais específicos.
Em suma, a globalização influenciada pela geopolítica, em conjunto com os meios digitais e as propagandas massivas que pregam, cada vez mais, a igualdade e troca de afazeres dos dois sexos, são grandes responsáveis pelo movimento que se faz perceptível cada dia mais: o homem está mudando.
O HOMEM E OS CUIDADOS COM O CORPO
Lourival Francisco Filho, 26 anos, administrador de empresas, é natural de Jurema, Pernambuco. Veio para São Paulo buscar a sorte grande, assim como outros homens. Quando chegou aqui se encantou com a cidade grande, mas outros atrativos também chamaram a sua atenção: o mercado da beleza.
Um mercado ainda em ascensão, atrai ano a ano homens e mais homens, que se tornam adeptos aos novos cuidados com a pele e o corpo, que até então eram esquecidos.
Lourival nos conta que levou cerca de 1 ano para adentrar nesse mercado: “Lembro até hoje da minha primeira limpeza de pele. Foi engraçado. Eu saí com o rosto branco, mas a sensação de limpeza é muito grande. Você sai puro. Quando você cria o hábito, a sua pele começa a mudar de estímulo e automaticamente ficar mais saudável. Recomendo com toda certeza tais procedimentos estéticos.”
Atualmente muitas marcas trabalham com produtos específicos para homens. Foi se o tempo que o único produto conhecido era o creme de barbear. Hoje, até base própria para homens é encontrado em farmácias de todo o Brasil.
O termo metrossexual nunca foi tão aceito. O publico masculino mudou e parece que sempre muda mais. O cuidado com o corpo também é constante. Cortes estilosos e modernos. Cabelos compridos. Coques e tranças. Uma variedade de formas e tamanhos. Nunca usou-se tanto a tesoura. Máquinas de cortar cabelo ficam paradas em salões e os que gostam do cabelo curtinho diminuíram. Lourival conta que em sua cidade natal só raspava o cabelo. Era o padrão de sua família. Até os próprios profissionais não eram muito abertos. Já em São Paulo conseguiu expandir o seu olhar e mudar o look: “Acho que o cabelo foi à primeira coisa que mudei. Sempre gostei de usá-lo baixinho, mas é bom mudar. Fazer algo novo. Ter um novo rosto. E um corte muda tudo. Assim como a limpeza nas sobrancelhas. Sempre que vejo um look legal, vejo com o meu cabelereiro e pergunto qual é a opinião dele. Se tiver que mudar, eu mudo sem medo.”
Tais mudanças ainda requer um tempo de aceitação. Muitas pessoas ainda olham esse cuidado exagerado como algo ruim. Mas o cuidado é importante ter, para que qualquer um tenha o direito de se cuidar da melhor forma possível.
O HOMEM E OS CUIDADOS COM A CASA
Cassio Tadeu, 30 anos, paulista e morador da zona leste, publicitário, perdeu o emprego há um ano, reflexo da crise. Desde então vem tendo dificuldades para se colocar no mercado. Atualmente vive com a mãe, mas o trabalho não saiu dele. Com mais tempo livre, hoje é um verdadeiro “dono do lar”.
Com um sorriso no rosto é bem enfático em nos dizer que adora as responsabilidades de casa: “Minha mãe trabalha fora e eu fico sozinho em casa. Tenho 30 anos e preciso ajudar de alguma forma. Faço tudo que eu posso e que sei fazer. A patroa (risos) é bastante exigente com as coisas e não pode ver nada fora do lugar.” Perguntamos o que ele faz para contribuir nos afazeres domésticos e a resposta foi clara: “Eu faço tudo, desde lavar louça, fazer comida, varrer a casa, lavar roupa.
No começo você preciso aprender tudo. Confesso que fiquei incomodado, porque não tinha o hábito de ajudar, porque ficava o dia todo fora, mas depois de um tempo é preciso ajudar. Se mostrar útil ainda.”
Perguntamos o que ele ouve das pessoas quando diz que ele é o dono da casa hoje e rindo diz que as pessoas consideram o serviço normal. “Foi se o tempo em que somente mulheres faziam tudo de casa para o homem trabalhar. Hoje eu tenho o tempo livre e ajudo da maneira que posso. É claro que o meu objetivo é voltar a trabalhar, mas por enquanto eu vou ajudando em casa.”
O fato é que hoje, cuidar do corpo, da casa não é uma tarefa exclusiva feminina. Na verdade nunca foi. Foram conceitos erroneamente adaptados. Todos podem e devem se cuidar e ajudar em tudo. O tempo está mudando, a sociedade está mudando e o homem junto.